25.8.09

Linha de produção

Matéria publicada no correio Braziliense.

Com projetos engatilhados e muitos em fase de finalização, quadrinistas da cidade começam a ter reconhecimento


» PEDRO BRANDT

--A produção nacional de história em quadrinhos autorais vai bem, obrigado. Muitos podem dizer que a situação de hoje em dia não se compara com a vivida em outras décadas — quando mais autores publicavam gibis para muito mais leitores. Mas é perceptível uma considerável retomada de fôlego de uns anos para cá. Em Brasília, a produção de HQs é sazonal, mas tem se mostrado contínua e rendido não só títulos surpreendentes, mas, principalmente, revelado grandes talentos.
--Muitos deles já estão com os novos trabalhos prontos ou em estágio avançado de finalização. O desenhista Gabriel Góes é talvez o nome mais conhecido dos quadrinhos brasilienses fora da cidade. Com o roteirista carioca Arnaldo Branco (criador do impagável Capitão Presença), Góes ilustrou a adaptação de O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues, publicada em 2007. “Já estamos negociando com a editora Nova Fronteira uma outra adaptação de um livro do escritor”, conta o desenhista — que prefere manter mistério sobre qual obra será levada para as HQs desta vez.
--Mas Gabriel já adianta os próximos planos da Samba, revista lançada em parceria com os quadrinistas Lucas Gehre e Gabriel Mesquita, em novembro passado, e que alcançou boa repercussão nacional. “A Samba número 1 era mais uma vitrine do nosso trabalho. Agora o conceito está mais amarrado. A ideia é fazer dela um selo. Os primeiros gibis serão o Kowalski,
meu, e mais três do Lucas, batizados de Amarelo, Laranja e Vermelho”. Nas palavras de Gabriel, Kowalski aborda assuntos pertinentes, contemporâneos, como drogas, dançarinas exóticas e suicídios. “Ah, e tem ainda uma fotonovela no meio”, emenda.
--Este mês, Felipe Sobreiro teve uma de suas histórias selecionadas pelo site Zudacomics, da editora americana DC Comics (casa de Batman, Superman, Mulher-Maravilha…). “Eu e meu pai continuamos fazendo propostas pra Heavy Metal. Mês que vem ou outubro vai sair uma historia desenhada por ele e colorida por mim, já aprovada por eles”. Nestablo Ramos Neto tem dois álbuns prontos desde o ano passado esperando para serem publicados pela editora HQM. “Com a crise, eles tiveram que dar uma segurada em todos os lançamentos. Agora as coisas estão voltando a andar e eles já estão reagendando tudo. Creio que para este semestre tá saindo”, comemora.
--Revelados pela surpreendente revista Bongolê Bangoró [sic], Gomez e Stevz também estão com novidades. Enquanto o primeiro produz sua própria revista, a Pimba! (prevista para 2010), o segundo prepara para este semestre a Beleléu, parceria com três quadrinistas cariocas. O ilustrador Kleber Sales procura interessados em publicar na íntegra sua adaptação para Os miseráveis, de Victor Hugo. O primeiro episódio acabou de sair na revista coletiva Ragu. Designer brasiliense radicado em São Paulo, Mário César lançou em julho, pelo coletivo Quarto Mundo, sua Entre quadros, a estreia individual.
--Autor dos livros Esfolando ouvidos e Grosseria refinada e vocalista da banda de hardcore Quebraqueixo, Evandro Vieira convidou desenhistas da cidade para ilustrar HQs inspiradas nas letras de suas músicas. O resultado será apresentado aos leitores em 2010. “Como já temos um bom material, eu e o baixista da banda vamos reunir essas histórias e bancar uma revista de 16 ou 20 páginas para levar para o Festival Internacional de Quadrinhos, o FIQ”, conta. O evento será realizado em outubro, em Belo Horizonte. “Os independentes têm dado visibilidade aos quadrinhos. Vi isso acontecer com vários artistas franceses, nos anos 1980 e 1990. Começaram no underground e hoje são nomes superconhecidos”, contextualiza Roberto Ribeiro, um dos curadores do FIQ.
--Tanto a Samba, quando o calendário Pendura [sic] (com desenhos de 12 ilustradores da cidade) concorreram ao prêmio HQ Mix, o principal dos quadrinhos no Brasil (e cuja cerimônia de entrega é hoje, na capital paulista). Nenhuma das produções candangas conseguiu o troféu, mas isso não significa desânimo. “Os interesses estão voltados para as HQs alternativas, independentes. Daqui pra frente, com os nossos próximos lançamentos, acho que vai ser mais legal. As pessoas vão ver que estamos continuando”, reflete Gabriel Góes. Em um cenário ainda incipiente, paciência e perseverança são virtudes essenciais.

Um comentário:

  1. Parabéns pessoal sembre olho o marerial de vcs. acho muito bom.
    tá na hora mesmo da galera reconhecer.

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